A preocupação com a dimensão espiritual remonta ao tempo dos gregos. A própria palavra grega pneuma, que quer dizer sopro ou mesmo a respiração vital, foi empregada como uma metáfora para descrever o que está relacionado com o sobrenatural e ao imaginário, na perspectiva mitológica grega. Eles desenvolviam uma analogia entre o ar e a respiração, o princípio que permeia tanto o universo quanto o homem e preenche todos os vazios. Esse ar interno é a fonte de toda a inspiração e do pensamento, o princípio que dá sentido a todas as coisas.
Da mesma forma que a alma, como psyche, está presente no corpo e lhe é inata, o espírito divino está espalhado através do kosmos. A alma como pensamento puro é o que permite a ligação entre o material e o transcendente, a ligação do homem com deus como um bem absoluto. Os estoicos entenderam o pneuma como o princípio vital que está em todo o universo, como uma espécie de fluido que age por tensão, como se fosse um campo de força, mantendo unidas as partes do universo, impedindo, assim, que elas se dispersem no vazio. Ao mesmo tempo, é o pneuma que mantém a individualidade de cada ser como se fosse a sua alma. Esse princípio vital é o logos, a alma do mundo, que está presente em toda matéria. O espírito é o princípio imanente que põe ordem em todo o universo.
A tradição judaico-cristã trouxe a compreensão do homem como criação a partir de uma substância terrena e de um espírito divino. Isso remete à compreensão de que o homem é parte da natureza divina enquanto força motriz de tudo o que existe (nous). No Antigo Testamento, o espírito divino é tratado como uma sabedoria, é o sopro animador (ruach) que invade todo o universo. No Novo Testamento surge a ênfase na noção do Espírito Santo como pessoa, a tradução da expressão hebraica ruach hakodesh, a terceira pessoa da trindade divina. Daí a ideia de Deus como espírito pessoal. Nos evangelhos, ele é apresentado como paracleto, uma espécie de defensor, ajudador ou conselheiro. A melhor tradução para essa palavra é realmente “consolador”.
O apóstolo Paulo desenvolveu em sua teologia a compreensão do novo homem que nasce em Cristo, a nova criatura. Ele é espiritual na medida em que é orientado pelo Espírito Santo, que habita em seu coração. Isso se opõe ao “espírito carnal”, que se refere à vida unicamente guiada pela razão.
Mais adiante, na filosofia moderna, Descartes trata do espírito como sendo eu mesmo, que se opõe a corpo e matéria, uma vez que é indivisível e totalizante. Foi com Hegel que passou-se a considerar a essência do espírito como liberdade, que se concretiza nas ações do homem, na família, na sociedade, no estado. O espírito é tratado como a unidade na qual as contradições, tais como infinito e o finito, são abraçadas e sintetizadas. É o ser para si, que se desenvolve como espírito subjetivo (consciência), espírito objetivo (moralidade) e espírito absoluto (através da arte e da religião).
O que se vê com isso é que a noção de espiritualidade está ligada a um elemento comum que povoa a vida do homem, que é o imaginário. Seja ele voltado para o divino ou para si mesmo, o imaginário é a base na qual o homem busca ordenar toda a sua vida. Para os que se voltam para o divino, trata-se de uma atitude de abertura e escuta das escrituras (ou mesmo de oráculos) como guia da sua existência. Para os que se voltam para si ou para um outro não divino, a existência é marcada por valores que estão relacionados com a realização pessoal e a superação de suas fraquezas. A espiritualidade, de um modo geral, é ontologicamente uma realidade presente no ser humano.
O que se quer afirmar aqui é que a questão da espiritualidade não é meramente religiosa. Ela está relacionada à subjetividade e à interioridade. Trata-se de uma reeducação de si que nos leva à comunhão conosco mesmo, para a comunhão com a natureza, com o próximo e com Deus. Acredito que é nesta reeducação da nova vida que o indivíduo se abre para a construção de um novo sentido para as situações vividas.
A espiritualidade cristã se difere dessas inclinações do espírito por estar permeada por um Deus que se apresenta pessoalmente, que se revela na pessoa de Jesus Cristo, que diz “eu sou”. É o Deus que tem uma identidade, que mostra o seu rosto, que se mistura com gente pecadora. Para usar uma expressão de Frei Beto, nossa espiritualidade se baseia num Deus que apresenta curriculum, pois ele é o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó; num Deus de segunda categoria, que precisa de seis dias para criar o mundo e depois ainda de mais um dia para poder descansar, num Deus fraco que escolhe amar e se entregar por gente pecadora, num Deus que se esvazia de si mesmo e se revela como homem historicamente, na pessoa de Jesus Cristo; num Deus Espírito que se faz impotente, que geme por uma humanidade que não o reconhece.
Da mesma forma que a alma, como psyche, está presente no corpo e lhe é inata, o espírito divino está espalhado através do kosmos. A alma como pensamento puro é o que permite a ligação entre o material e o transcendente, a ligação do homem com deus como um bem absoluto. Os estoicos entenderam o pneuma como o princípio vital que está em todo o universo, como uma espécie de fluido que age por tensão, como se fosse um campo de força, mantendo unidas as partes do universo, impedindo, assim, que elas se dispersem no vazio. Ao mesmo tempo, é o pneuma que mantém a individualidade de cada ser como se fosse a sua alma. Esse princípio vital é o logos, a alma do mundo, que está presente em toda matéria. O espírito é o princípio imanente que põe ordem em todo o universo.
A tradição judaico-cristã trouxe a compreensão do homem como criação a partir de uma substância terrena e de um espírito divino. Isso remete à compreensão de que o homem é parte da natureza divina enquanto força motriz de tudo o que existe (nous). No Antigo Testamento, o espírito divino é tratado como uma sabedoria, é o sopro animador (ruach) que invade todo o universo. No Novo Testamento surge a ênfase na noção do Espírito Santo como pessoa, a tradução da expressão hebraica ruach hakodesh, a terceira pessoa da trindade divina. Daí a ideia de Deus como espírito pessoal. Nos evangelhos, ele é apresentado como paracleto, uma espécie de defensor, ajudador ou conselheiro. A melhor tradução para essa palavra é realmente “consolador”.
O apóstolo Paulo desenvolveu em sua teologia a compreensão do novo homem que nasce em Cristo, a nova criatura. Ele é espiritual na medida em que é orientado pelo Espírito Santo, que habita em seu coração. Isso se opõe ao “espírito carnal”, que se refere à vida unicamente guiada pela razão.
Mais adiante, na filosofia moderna, Descartes trata do espírito como sendo eu mesmo, que se opõe a corpo e matéria, uma vez que é indivisível e totalizante. Foi com Hegel que passou-se a considerar a essência do espírito como liberdade, que se concretiza nas ações do homem, na família, na sociedade, no estado. O espírito é tratado como a unidade na qual as contradições, tais como infinito e o finito, são abraçadas e sintetizadas. É o ser para si, que se desenvolve como espírito subjetivo (consciência), espírito objetivo (moralidade) e espírito absoluto (através da arte e da religião).
O que se vê com isso é que a noção de espiritualidade está ligada a um elemento comum que povoa a vida do homem, que é o imaginário. Seja ele voltado para o divino ou para si mesmo, o imaginário é a base na qual o homem busca ordenar toda a sua vida. Para os que se voltam para o divino, trata-se de uma atitude de abertura e escuta das escrituras (ou mesmo de oráculos) como guia da sua existência. Para os que se voltam para si ou para um outro não divino, a existência é marcada por valores que estão relacionados com a realização pessoal e a superação de suas fraquezas. A espiritualidade, de um modo geral, é ontologicamente uma realidade presente no ser humano.
O que se quer afirmar aqui é que a questão da espiritualidade não é meramente religiosa. Ela está relacionada à subjetividade e à interioridade. Trata-se de uma reeducação de si que nos leva à comunhão conosco mesmo, para a comunhão com a natureza, com o próximo e com Deus. Acredito que é nesta reeducação da nova vida que o indivíduo se abre para a construção de um novo sentido para as situações vividas.
A espiritualidade cristã se difere dessas inclinações do espírito por estar permeada por um Deus que se apresenta pessoalmente, que se revela na pessoa de Jesus Cristo, que diz “eu sou”. É o Deus que tem uma identidade, que mostra o seu rosto, que se mistura com gente pecadora. Para usar uma expressão de Frei Beto, nossa espiritualidade se baseia num Deus que apresenta curriculum, pois ele é o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó; num Deus de segunda categoria, que precisa de seis dias para criar o mundo e depois ainda de mais um dia para poder descansar, num Deus fraco que escolhe amar e se entregar por gente pecadora, num Deus que se esvazia de si mesmo e se revela como homem historicamente, na pessoa de Jesus Cristo; num Deus Espírito que se faz impotente, que geme por uma humanidade que não o reconhece.
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