Vivemos num mundo plural. Melhor dizendo,
o mundo sempre foi plural, mas atualmente o pluralismo deixou de se
caracterizar por uma diversidade de culturas para ser uma pluralidade dentro de
uma mesma cultura. E isso se reflete na configuração da experiência religiosa:
ela se desenvolve em meio a uma diversidade de sentidos, possibilidades e
dinâmicas. Como afirma Richard Bergeron (2009, p. 93), a “religião é um caminho
humano de libertação que consiste na ativação de um universo de sentido
englobante e de um sistema de práticas individuais e sociais, destinada ambas a
pôr o homem em relação com o sagrado e assim a permitir-lhe transcender desde
já sua existência alienante”.
O pluralismo se torna evidente e
palpável na medida em que interagimos com o mundo, de tal forma que não dá mais
para se viver isolado, recolher-se em uma caixa ou construir fronteiras. A
cultura hodierna dominada pelo excesso de informação, construída pelas novas
tecnologias e afirmada a partir da supremacia do indivíduo desfaz todas as
antigas estruturas de saber e funda novas possibilidades de experiência.
Schillebeeckx (2004) chega a falar que
o pluralismo da sociedade também possibilita a formação de uma personalidade
plural, uma consciência aberta à novas possibilidades. “A pluralidade das
possibilidades tornou-se uma qualificação íntima do sujeito”, diz, e isso muda
a sua relação com a estrutura religiosa. Uma vez que sua consciência comporta
uma multiplicidade de possibilidades, o sujeito vê o mundo de forma plural.
Isso tem a ver com formas de conhecer, de perceber e apreender a realidade que
o cerca e de ter acesso à verdade.
O cristianismo tem sido, ao mesmo
tempo, vítima e mentor dessa configuração da cultura ocidental. Nesse caso,
como a pós-modernidade tende a colocar a racionalidade em questão, ele também é
posto sob suspeita e é tratado pela conduta laica e secularizada dominante como
uma possibilidade entre muitas. Desse modo, sua escolha é: ou dialoga ou
torna-se irrelevante. Isso exige uma experiência de alteridade radical visto
que o diálogo só acontece naquelas circunstâncias em que se dá o reconhecimento
da diversidade e quando o outro é percebido e acolhido como sujeito.
Espera-se que teólogos cristãos sejam
capazes de dialogar nessa dimensão. A Teologia já é em si um exercício de
diálogo. Segundo Jürgen Moltmann (2004, p. 11), “a Teologia ocorre onde pessoas
chegam ao conhecimento de Deus e ‘percebem’ a presença de Deus com todos os
seus sentidos na práxis de sua vida, de sua felicidade e de seus sofrimentos”.
Nesse sentido, “o acesso teológico à verdade do Deus triúno é dialógico,
comunitário e cooperativo”.
Referências Bibliográficas:
BERGERON,
Richard. Fora da igreja também há salvação. Trad. Maria Stela Gonçalves.
São Paulo: Loyola, 2009.
MOLTMANN, Jürgen. Experiências
de reflexão teológica: caminhos e formas da teologia cristã. Trad.
Nélio Schneider. São Leopoldo: Unisinos, 2004.
SCHILLEBEECKX, Edward. História humana: revelação de Deus. Trad. João Rezende Costa. São
Paulo: Paulus, 2004.
(Trecho da comunicação no 29o. Congresso Internacional da Soter. - Imagem retirada do site Religión Digital)
(Trecho da comunicação no 29o. Congresso Internacional da Soter. - Imagem retirada do site Religión Digital)
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