sexta-feira, 22 de julho de 2016

Implicações do diálogo inter-religioso num mundo plural / Implications of interreligious dialogue in the plural world / Implicaciones del diálogo interreligioso en el mundo plural

Vivemos num mundo plural. Melhor dizendo, o mundo sempre foi plural, mas atualmente o pluralismo deixou de se caracterizar por uma diversidade de culturas para ser uma pluralidade dentro de uma mesma cultura. E isso se reflete na configuração da experiência religiosa: ela se desenvolve em meio a uma diversidade de sentidos, possibilidades e dinâmicas. Como afirma Richard Bergeron (2009, p. 93), a “religião é um caminho humano de libertação que consiste na ativação de um universo de sentido englobante e de um sistema de práticas individuais e sociais, destinada ambas a pôr o homem em relação com o sagrado e assim a permitir-lhe transcender desde já sua existência alienante”.
O pluralismo se torna evidente e palpável na medida em que interagimos com o mundo, de tal forma que não dá mais para se viver isolado, recolher-se em uma caixa ou construir fronteiras. A cultura hodierna dominada pelo excesso de informação, construída pelas novas tecnologias e afirmada a partir da supremacia do indivíduo desfaz todas as antigas estruturas de saber e funda novas possibilidades de experiência.
Schillebeeckx (2004) chega a falar que o pluralismo da sociedade também possibilita a formação de uma personalidade plural, uma consciência aberta à novas possibilidades. “A pluralidade das possibilidades tornou-se uma qualificação íntima do sujeito”, diz, e isso muda a sua relação com a estrutura religiosa. Uma vez que sua consciência comporta uma multiplicidade de possibilidades, o sujeito vê o mundo de forma plural. Isso tem a ver com formas de conhecer, de perceber e apreender a realidade que o cerca e de ter acesso à verdade.
O cristianismo tem sido, ao mesmo tempo, vítima e mentor dessa configuração da cultura ocidental. Nesse caso, como a pós-modernidade tende a colocar a racionalidade em questão, ele também é posto sob suspeita e é tratado pela conduta laica e secularizada dominante como uma possibilidade entre muitas. Desse modo, sua escolha é: ou dialoga ou torna-se irrelevante. Isso exige uma experiência de alteridade radical visto que o diálogo só acontece naquelas circunstâncias em que se dá o reconhecimento da diversidade e quando o outro é percebido e acolhido como sujeito.
Espera-se que teólogos cristãos sejam capazes de dialogar nessa dimensão. A Teologia já é em si um exercício de diálogo. Segundo Jürgen Moltmann (2004, p. 11), “a Teologia ocorre onde pessoas chegam ao conhecimento de Deus e ‘percebem’ a presença de Deus com todos os seus sentidos na práxis de sua vida, de sua felicidade e de seus sofrimentos”. Nesse sentido, “o acesso teológico à verdade do Deus triúno é dialógico, comunitário e cooperativo”.
Referências Bibliográficas:
BERGERON, Richard. Fora da igreja também há salvação. Trad. Maria Stela Gonçalves. São Paulo: Loyola, 2009.
MOLTMANN, Jürgen. Experiências de reflexão teológica: caminhos e formas da teologia cristã. Trad. Nélio Schneider. São Leopoldo: Unisinos, 2004.
SCHILLEBEECKX, Edward. História humana: revelação de Deus. Trad. João Rezende Costa. São Paulo: Paulus, 2004.
(Trecho da comunicação no 29o. Congresso Internacional da Soter. - Imagem retirada do site Religión Digital)

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