“Por isso não tema, pois estou com você; não tenha
medo, pois sou o seu Deus. Eu o fortalecerei e o ajudarei; Eu o segurarei com a
minha mão direita vitoriosa.” Isaías
41.10
Alguém um dia falou que a Bíblia
repete a expressão “não temas” 366 vezes, uma para cada dia do ano. Embora isso
não seja um fato comprovável – a expressão deve ocorrer em torno de 90 vezes em
toda a versão portuguesa das escrituras –, é legal saber que Deus é aquele que
diz para não termos medo. Você não precisa que Deus repita isso todos os dias
para acreditar que Ele está ao seu lado até nos momentos mais difíceis. Basta
ouvir uma vez só.
Jesus disse a Jairo, o dirigente
de uma sinagoga, uma vez: “Não tenha medo;
tão-somente creia” (Marcos 5.36). Sua filhinha estava morrendo e ele
vivia um grande conflito: era o chefe da sinagoga, que congregava os temidos
fariseus que se opunham a Jesus. Contudo, ele confiou no fato de que Jesus era
suficiente não só para restaurar a saúde de sua filha, mas também para lhe dar
força e coragem para enfrentar aquela situação.
O medo é uma das contradições de
nossa condição humana. É um sentimento que serve de sinal de alerta para nos
proteger, mas também serve para nos paralisar. Aristóteles disse que o medo é
uma agitação da alma diante de uma ameaça futura que pode provocar a dor e até
a morte. Ele disse que “o medo é definido por uma expectativa do mal”. Para o
filósofo Nietzsche, o medo é o pai da moral. Por isso, ele precisa ser vencido
e, para essa vitória, é preciso uma moral capaz de exercer controle sobre
nossas contradições humanas. Uma moral assim é castradora de nossa própria
liberdade. Nietzsche falou isso ao criticar a moral kantiana, que defendia o
agir moral a partir de um critério metafísico: um valor universal que visa o
bem comum.
Segundo Espinosa, há duas fortes
paixões que orientam nossas ações: a esperança e o medo. Elas têm uma origem
comum, que é a dúvida. Elas surgem de uma ideia comum que fazemos da realidade,
cujo resultado duvidamos. Daí ele afirmar que “não há esperança sem medo, nem
medo sem esperança”.
Em Kant, a esperança e o medo
não têm valores em si mesmos, embora justifiquem o agir correto para muita
gente. A esperança visa alcançar as promessas divinas pelo agir correto. Já o
medo tem a ver com os castigos e punições reservados aos desobedientes. As
ações orientadas pela esperança ou pelo medo, no fundo, têm o mesmo sentido. Nenhuma
dessas formas são válidas ou sinceras, visto que satisfazem apenas aos
interesses individuais de recompensa ou de livramento.
A existência humana é marcada
por uma luta constante para afastar aquilo que provoca o medo. O problema é que
somos um projeto inacabado, lançados no mundo sem que tenhamos feito uma
escolha prévia para isso, entregues às contingências e às circunstâncias
históricas concretas. Carlos Drummond de Andrade, em sua poesia “O medo”, diz
que: “Em verdade temos medo. Nascemos no escuro [...] E fomos educados para o
medo”. O medo “nos dissimula e nos berça”, diz. Temos medo em estado bruto
diante de situações que causam medo.
Dizer para não ter medo diante de
situações que provocam medo seria uma coisa completamente fora de sentido. Essa
palavra não cabe na boca de um ser humano, como uma autoafirmação ou um
conselho terapêutico. Somente Deus pode oferecer uma solução para o medo, não
para removê-lo, mas para superá-lo. A única força que pode vencer o medo é o
amor. Pelo fato de ser perfeito amor, somente Deus pode vencê-lo. Por essa
razão, a Bíblia diz: “No amor não há
medo; pelo contrário o perfeito amor expulsa o medo, porque o medo supõe
castigo. Aquele que tem medo não está aperfeiçoado no amor” (1 João 4.18)
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